Desde seu surgimento, na década de 80, quando as técnicas de neuroimagem permitiram uma visualização mais acurada do encéfalo, os psiquiatras, associados aos neurorradiologistas vêm tentando estabelecer padrões que subsidiem o diagnóstico e o acompanhamento da evolução e do tratamento da esquizofrenia. Inicialmente, a Tomografia Computadorizada do Crâneo não trouxe nenhum auxílio no intuito supramencionado. Na década de 90, começaram a surgir métodos mais sofisticados.A Ressonância Magnética Estrutural, a princípio com aparelhos de baixa capacidade, já revelava alguns dados que, embora não patognomônicos, mostravam-se extremamente freqüentes nesta entidade nosológica. Podemos citar o aumento ventricular, o alargamento de sulcos, o “cavum” do septo pelúcido e a atrofia hipocampal e amigdaliana como os mais encontradiços.Anos mais tarde, com o advento das tecnologias funcionais, acrescentaram-se mais elementos úteis para o melhor entendimento da doença. A Tomografia por Emissão de Fóton Único (SPECT) permite, através do tracejamento de contraste radioativo, estudar com detalhes e em vários cortes o fluxo sanguíneo cerebral, obtendo também informações indiretas a respeito do metabolismo. Na esquizofrenia é possível observar áreas de hipofluxo, principalmente frontotemporais. A Tomografia por emissão de Pósitrons (PET) é ainda mais sensível, possibilitando o estudo do metabolismo, captando o consumo de glicose marcada radioativamente e, traçando radiofármacos, expõe as propriedades e funções dos receptores de diversos neurotransmissores envolvidos na esquizofrenia. No final da década, a engenharia médica produziu aparelhos de Ressonância Magnética com capacidade superior a 1.5 Tesla, o que permitiu aos pesquisadores, de posse de uma técnica não invasiva, pela simples captação do retorno do sinal emitido, criar os Mapas de Perfusão e a Espectroscopia de Prótons, que consiste num verdadeiro “mapeamento”, utilizando tecnologia de voxel único que estuda pequenas áreas específicas e multivoxel, que abrange áreas mais extensas na percepção da presença de substâncias marcadoras do funcionamento neuronal. A queda da relação entre o N-Acetil-Aspartato e a Creatina (NAA-CR) na área anterior do giro do cíngulo e lobo frontal direitos já vem se estabelecendo como característica. Adveio em somatório a Ressonância Magnética Funcional de Ativação, que estuda a atividade de determinadas regiões do cérebro, capturando a aceleração metabólica no momento da função, seja motora, seja sensitiva, ou mesmo mental. A partir daí, abriu-se um universo infindável de linhas de pesquisa, aumentando sobremaneira a compreensão da intrincada complexidade que cerca a esquizofrenia.Em brilhante palestra no Cogresso Mundial de Psiquiatria de 2005 na cidade do Cairo, Egito, o Prof. Tonmoy Sharma do Clinical Neuroscience Research Centre, UK, apresentou trabalho versando sobre “Os Efeitos cognitivos dos Antipsicóticos no Primeiro Episódio: Estudos Randomizados com Ressonância Magnética Funcional”. O objetivo foi demonstrar se os padrões de imagem na ativação cerebral previamente relatados na Esquizofrenia crônica estavam também presentes no primeiro episódio. Técnicas de Ressonância Magnética Funcional de Ativação (RMf A) foram usadas para comparar a função cerebral durante um teste verbal de memória. Seis pacientes masculinos esquizofrênicos em primeiro episódio, destros, foram pareados com esquizofrênicos crônicos segundo a PANSS. Dois do primeiro grupo eram virgens de tratamento, enquanto todos os outros recebiam terapia antipsicótica em doses semelhantes. Não havia diferença entre os dois grupos quanto ao QI pré-mórbido. Todos foram submetidos à RMf A enquanto executavam o teste denominado “Two-Back Task”. Quando comparados a um grupo de controles normais, ambos os grupos de esquizofrênicos, tanto os de primeiro episódio quanto os crônicos apresentaram hipoativação evidente no córtex pré-frontal direito, giro pré-central e cortex parietal posterior bilateral. Mostraram também hiperativação difusa no giro cuneiforme esquerdo. A ativação no grupo dos esquizofrênicos agudos e crônicos foi menor difusa e desordenada, enquanto no grupo controle mostrou-se mais intensa, concentrada e delimitada às áreas específicas da rede neural envolvida no teste. Os pacientes virgens de tratamento apresentaram alterações mais intensas que o grupo de agudos sob tratamento. Concluindo, as anormalidades observadas não foram devidas à cronicidade da doença nem ao efeito de curto ou longo prazo dos antipsicóticos, porém a introdução do tratamento parece atenuá-las.O trabalho do Prof. Sharma, apesar de abranger uma amostragem diminuta desperta o interesse daqueles que vislumbram na Neuroimagem um poderoso método de exame complementar em Psiquiatria, descortinando a imensa vastidão do campo de pesquisa a ser esquadrinhado.
Marcos Gebara